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sábado, 10 de maio de 2008

Um Episódio de Vida ... Exame do 6º ano

Todos os anos em Outubro o meu filho ficava retido por faltas, chegando ao final do ano lectivo reprovado. Eu passava horas, dias e semanas sentada em frente a uma mesa, inventando exercícios para ele fazer, explicava-lhe a matéria toda. Os colegas chegavam a ir para minha casa onde eu tentava ajuda-los. Os outros tinham sempre excelentes notas. Pelo contrário, o André, embora sabendo os livros quase de cor, não respondia a uma só pergunta, limitando-se a preencher com o seu nome a folha de teste, isto quando ia às aulas, pois geralmente, pese embora o meu esforço e empenho, faltava à aula do teste.

Eu sinceramente sentia-me gozada, ainda assim, nunca cruzei os braços, não conseguia mentalizar-me que iria ficar com um filho analfabeto, logo eu que tanto tinha lutado para poder ser uma pessoa minimamente instruída. Comecei a convencê-lo a ir propor-se a exame, ao que ele aceitou. Pensei que era uma missão impossível para ele, sem ajuda (convem lembrar que é hiperactivo), nunca iria conseguir!!! Acordei com ele que eu iria fazer o resumo de todas as disciplinas para que o nº de folhas que ele tivesse de ler fosse o mais reduzido possível.

Mais, prontifiquei-me a fazer cerca de 100 perguntas e respostas, para que fosse quase impossível os professores fazerem alguma pergunta que eu não tivesse equacionado (tecnica que aprendi na faculdade). Assim aumentávamos as probabilidades de sucesso. Insisti para que se deslocasse à escola afim de ver o calendário dos exames, e a resposta dele era sempre a mesma, “…ainda não saiu nada”. Estranhei! Dirigi-me à escola, e qual não é o meu espanto, quando vejo, que o primeiro exame era já, daqui a 3 dias.

Afinal a pauta dos exames estava exposta há mais de 1 mês e meio. Fiquei revoltada, mas não era tempo para discussões, tinha era de ter a matéria toda sintetizada, para que ele a estudasse. Passei um dia e uma noite sem ir à cama, para fazer os resumos do livro de História e as perguntas/respostas. Ele passava por mim, e dizia-me … “bem, granda maluca!!”.

O pai tentava chamar-me à razão, dizendo-me que eu estava a fazer papel de parva, que o André ainda gozava com a situação. Eu não ligava. O meu filho tinha que completar o ciclo preparatório!!
Pu-lo a estudar a matéria do primeiro teste (historia). Na pauta estava afixada a matéria sobre a qual ia incidir o exame, e estavam as perguntas quase que, desculpem a expressão, “escarrapachadas”. Transcrevi as perguntas e formulei as respostas. Ele estudou, tinha a matéria quase decorada. Eu fazia-lhe as perguntas, ele dava as respostas, eu completava, o que ele se esquecia.

Parti do princípio que mesmo correndo mal, ele nunca teria menos de 80% de pontuação. Chegou o dia do exame. Desejei-lhe boa sorte e ele lá foi. Eu, continuava em casa, embrenhada nos outros livros e no computador, a sintetizar a matéria. Ele chega a casa …. Perguntei-lhe entusiasmada, então como correu? …. Respondeu-me: “…. Bem, nem imaginas, as perguntas eram exactamente as que tu fizeste” … ao que eu pergunto … “então correu-te bem, quanto é que achas que vais ter?”, … e eis que escuto a resposta que jamais pensei ouvir “…. Não me correu bem, as perguntas eram iguais, mas a ordem com que foram colocadas era diferente, não consegui responder a nenhuma!!!!”

Eu não sabia se havia de me mandar para o chão, se deveria rir à gargalhada, se havia de o esbofetear, se haveria de gritar por socorro, ou se pedia para alguém me beliscar! A reacção que tive foi deixar escorrer duas lágrimas, mas mais uma vez, não havia tempo a perder …. Ele poderia passar com 1 negativa, e esta, já era uma certeza. Voltei ao computador, e consegui disponibilizar-lhe tudo o que necessitava. Ele fez os exames, uns, correram melhor que outros, houve professores que quase faziam os testes por ele, ainda assim, não conseguiu passar de ano, pois teimou que não queria fazer o exame de música, pelo que não foi possível! Quando alguém não quer ser ajudado, não quer ser ninguém, não vale a pena!!!!

2 comentários:

Anónimo disse...

Lembro-me muito bem dessa altura...
Fartaste-te de estudar, ainda bem que "o saber não ocupa lugar" :)!!
Não há dúvida que ele não tinha mesmo vontade nenhuma de estudar (ou de fazer coisa alguma que lhe desse trabalho...)!
O teu filhote nasceu assim: com uma "espécie de defeito de fabrico".
A culpa não é tua nem do teu marido. Simplesmente por mais que se faça e por mais que se tente à coisas sobre as quais não se consegue ter qualquer controle...
Beijos

Kelly disse...

É preciso ter lata...eu acho que perdia as estribeiras...