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sábado, 14 de junho de 2008

Confissões de Uma Mãe ..... Desiquilibrada

Na passada segunda feira o André telefonou-me. Disse-me que tinha estado toda a noite no concerto do Bob Synclair na praia de Carcavelos e queria-me convidar a ir com ele para a praia. Ele estava em Loures e tinha os amigos à espera no Estoril. No fundo, o que ele me devia ter dito, é que depois de uma directa não lhe estava a apetecer ir para a praia de transportes públicos, pelo que lhe dava jeito ir de boleia. Mais uma vez, senti-me usada! Aleguei que estava indisposta não podendo por isso aceder ao seu convite.

Sinceramente, lá fiquei a pensar que o André continua a revelar muito pouco bom senso. Então ele estava a imaginar-me a mim e aos irmãos no meio dos amigos Dreads, a inalar o fumo das ganzas que fumam enquanto deitam o olho às garinas que passam, ouvindo muitos palavrões para animar?? Não percebo!!

Hoje voltou a ligar-me. Queria que eu fosse tomar café com ele. Sinceramente, nunca fui tão assediada para tomar café, como agora (lol). Estes convites são estranhos, pelo que, lhe perguntei se ele estava a precisar de alguma coisa … pois tanta vontade de tomar café não era muito habitual. Disse-me que não … que era só mesmo para tomar café … pedindo-me no minuto a seguir, para que eu lhe visse, via internet, se conseguia arranjar um quarto para alugar na zona de Loures. Informei-o que tinha conhecimento de um quarto localizado nas Torres da Bela Vista, local onde vivem alguns amigos dele, ao que me respondeu que aí não queria, pois o ambiente era muito pesado!!!!! Com esta resposta ainda mais convencida fiquei que estes contactos trazem água no bico!!!

Na verdade ele está nervoso. A esta altura já recebeu a notificação para comparecer no Tribunal no próximo dia 24 de Junho, mas não sabe se nós estaremos ou não presentes, e muito menos, qual o objectivo da notificação … ele está inseguro, nervoso … pois está sem saber o que irá acontecer, pretendo por isso saber qual o meu estado de espírito, no fundo desculpem a expressão, pretende tirar nabos da púcara.

Expliquei ao André que as minhas finanças não me permitem fazer uma deslocação de 60 km para ir tomar café, contudo, abstive-me de me fugir a boca para a verdade, e explicar-lhe que ao contrário dele, não vivemos dos subsídios da Seg. Social, pelo que, o orçamento tem de ser estudado e canalizado para as prioridades, que neste caso, não passam por tomar café a tantos Kms de distância. Combinei com ele, que quando fosse para aqueles lados o contactaria.

Para ser franca não é só o André que está preocupado ou nervoso … eu também estou.
Sei que vai ser mais um dia difícil.

Para começar, irei começar por ser bombardeada com dos desabafos matinais do meu marido, que vai fazer questão de me relembrar, que:

- mais uma vez, devido aos devaneios do filho mais velho, os filhos mais pequenos terão de ir para o tribunal, que é um local pouco aconselhável para crianças pequenas (infelizmente não temos onde as deixar).
- que não fosse o compadrio da minha mãe o processo provavelmente estaria mais do que fechado.
- que teve de pedir ao colega de trabalho que se encontra de férias para ir trabalhar nesse dia, para que ele se apresentasse na conferência,
- que perderá 50,00€ da remuneração.

Para terminar, dir-me-á que se alguma vez receber alguma conta para pagar relativa a este processo … que eu posso estar certa que ele encontrará o filho nos confins do diabo mais velho … e que o matará … porque gozar com o trabalho e com o dinheiro que tanto lhe custa a ganhar é que não.

Estou certa que me dirá tudo isto enquanto me visto e/ou trato das crianças. Se me sinto escandalizada? …. Não! Compreendo que seja esta a forma que encontra para extravasar a sua ira … esquecendo-se no entanto, que talvez seja eu, a pessoa que mais sofre com todo este processo, afinal de contas eu fui a mãe presente … do filho … do pai ausente (essa foi a verdade nua e crua).

Não poderei no entanto, deixar de me sentir zangada, porque a audição de todo este discurso irá provocar em mim uma maior ansiedade, e uma maior insegurança em relação ao meu auto-controlo.

Estes encontros obrigam-me a um esforço sobre-humano. Sinto-me com calores, suores, dores de cabeça, nauseas, tremo, rio, conto até 1000 para não chorar (infelizmente nunca consegui evitar), sinto-me frágil por não conseguir aguentar a minha armadura, irrito-me comigo mesma pela minha fragilidade, ao mesmo tempo, admiro a minha capacidade de amar após tantas facadas. No fundo, … a verdade é que me sinto em mil pedaços, representando cada um deles um sentimento forte e complexo mas conflituante entre si.

O facto de eu ter alguém á minha frente que possa por em causa as minhas capacidades e a minha dedicação como mãe, é por si só revoltante …. pois acredito que talvez as pessoas que me questionam não sejam, nem fossem capazes de aguentar, amar ou perdoar um filho, como eu tenho conseguido.

Esse confronto a que me sujeitam faz crepitar em mim um misto de pena e revolta em relação ao meu filho. Estou convicta que ele não tinha o direito de me/nos fazer passar por esta situação …..

O tempo em tribunal é escasso, e os relatos são tantos que fico sempre com a sensação que não consegui transmitir os meus verdadeiros sentimentos … não poucas vezes me limito a transmitir a minha revolta e a dificuldade que tenho em aceitar o desenrolar dos acontecimentos.

Os sentimentos relativos ao AMOR que sinto pelo André, ficam sempre bem guardados, na minha gavetinha dos afectos, pois sei que, se me atreve-se a dizê-lo publicamente, seria mais uma vez incompreendida … não só pelo facto de não conseguir dizê-lo, pois iniciaria com toda a certeza um pranto sentido e prolongado, mas também porque, contaria com a “condenação” do meu marido que não compreenderia como é que era possível o André colocar-nos perante estes factos, e eu ainda ir dizer para o tribunal que o amo muito ….

Para o meu marido iria parecer uma brincadeira de crianças ….

Creio que nem ele, nem ninguém, consegue perceber … que o amor que sinto pelo meu filho mais velho … não é maior nem menor do que sinto pelos meus pequeninos …. mas é concerteza um amor diferente.

Afinal de contas este foi o filho por quem tive de lutar, que me fez sentir verdadeiramente responsável, foi por ele que tive de me impor, foi ele que me fez conhecer os sentimentos mais sublimes que podemos ter, foi ele a cria que ferozmente defendi, foi nele que depositei as minhas maiores esperanças e foi ele que as defraudou, foi ele que me fez sentir a incomoda dor da traição, foi ele que fez com que eu crescesse e lutasse por uma vida melhor, foi pela voz dele que ouvi alguém chamar-me MÃE, e foi com ele, que eu aprendi, a ser a mãe que sou hoje.

Por tudo isto … ele é um filho especial não só por ser o primeiro mas por tudo aquilo que a sua vivencia tem provocado em mim!!

Para além de todo este confronto há uma situação que estupidamente me atormenta … a saída do tribunal … imagino muitas vezes como será aquela manhã que se aproxima, como será a sala de audiências, como será a juíza, que perguntas me farão, que respostas darei … mas tenho muita dificuldade em aceitar … ver o meu filho de um lado, e nós do outro, posicionados como litigantes, como guerreiros … numa guerra com vista à obtenção de um futuro que vejo incerto e preocupante!! Ao ponto a que chegámos!!

A minha maior dificuldade … vai ser à saída do tribunal … não me imagino a sair acompanhada dos meus pequeninos e do meu marido, e deixar para trás o meu filho mais velho … eu não devia ter de passar por isto … o que é que o André vai sentir? No fundo eu não queria que ele se sentisse abandonado, mas também tenho consciência que vai ser difícil evitar este inevitável!

E com que espírito vou “mentir” ao Di, quando ele me perguntar porque é que o meu Andé (é assim que ele fala do mano) não vem connosco? Com que dor lhe vou responder que o Andé vai ter com os amigos … quando sei que o que pretendo é disfarçar uma guerra em que se debatem sentimentos, angustias e frustrações?

Parece-me que vou ter de digerir este turbilhão de sentimentos até dia 24 … pois terei de estar forte e menos vulnerável para conseguir ultrapassar esta árdua manhã que aí vem!

Desculpem a extensão deste post … as possíveis contradições …. O português incorrecto … mas só consigo que saia isto e com esta deficiente qualidade.

Desejo-vos um Bom Fim-de-semana!!!
PS - Já viram a hora deste Post ... infelizmente estas horas tardias já me são familiares ... ultimamente tenho dificuldade em dormir, estou inquieta e com umas terríveis dores de cabeça!!! Que mais me irá acontecer?

3 comentários:

Patricia disse...

Olá Filipa.... em primeiro lugar tens de ir ao médico... estar acordada às 4 da manhã com dificuldade em dormir e com dores de cabeça não é normal. Precisas de descansar!
Gostava de te poder dizer que ir a tribunal é uma coisa fácil, mas não é... Se não gostando da pessoa é um sentimento horrível, gostando de um filho, mais horrível será. Deverás estar preparada para tudo... Com tudo isto fiquei sem perceber uma coisa: a razão da ida a tribunal...

beijos e um bom fim-de-semana

Patricia disse...

Claro que podes copiar o post. Quantas mais pessoas o fizerem melhor será para a causa.
Obrigada

Anónimo disse...

Não está fácil...
Ás vezes é dificil para as pessoas que estão de fora compreender o amor de uma mãe por um filho.
Com todo o devido respeito acho que nem um bom pai percebe.
Acho que é normal teres insónias! Quem não teria se tivesse um problema tão complicado em que pensar?!
A dor de "perder" um filho não pode dar descanso a ninguém...
Força! Não te podes dar "ao luxo" de ir abaixo. Olha os teus bebés!!