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quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Continuação

Por lá andámos a passear, sempre na espectativa que algo acontecesse. Quando nos deslocávamos para para casa, percebi que algo acontecia, pelo que a preocupação de chegar a casa era mais que muita.


Lembro-me dos meus amigos e marido falarem comigo, mas eu, que sabia o que estava a acontecer, mantinha-me com um sorriso amarelo, pretendendo manter esse facto só para mim.

A viagem parecia demorar uma eternidade. Chegámos à rua onde morávamos, e quando eu me movimento para sair do carro, senti uma descarga que fez com que ficasse repentinamente "encharcada", ... ainda assim mantinha-me em silêncio, um silêncio interrompido pela surpresa do meu marido que seguia atrás de mim, e assistia ao rasto que eu deixava. Cheguei a casa e fui direita à banheira. Vou-vos poupar ao que lá se passou. O que vos posso dizer é que queria ir para o Hospital, mas, as hemorragias eram tantas que eu não conseguia perceber como conseguiria de lá sair, para me vestir e dirigir-me ao hospital.

Aí estive por algum tempo e muitas vezes me senti prestes a desmaiar, mas a toalha de praia estendida na casa de banho não me permitia correr o risco de desmaiar e cair, com a possibilidade de me magoar. Estava sempre na esperança que a hemorragia desse treguas, para ir ... mas estava complicado. O meu marido, quando lhe reportei estar com tremores e palpitações, liga para o INEM, que de imediato me foram buscar enrolada num edredão, pois só ele, teria capacidade de absorção.

Cheguei de madrugada ao hospital para desespero da Sra. Doutora das Urgências Obstetricas que se encontrava a dormir e acordou muito indisposta.

Eu vinha sentada numa cadeira de rodas, e quando ela me manda levantar para entrar para o gabinete de observação e eu largo o edredon, ela responde-me: "Mas o que é que se passa consigo?, você está a esvair-se em sangue!!! E estava mesmo. Observavam-me e a médica estava muito incomodada, pois não concordava com o facto de ministrarem comprimidos e mandarem as pacientes para casa aguardar, sujeitas a terem complicações como eu estava a ter. A hemorragia não passava, e havia muitos coagulos, pelo que, a médica decidiu avançar para a curetagem. Realizaram-na naturalmente com anestesia geral, não tendo por isso, sentido qualquer dor. Estive todo o dia internada, tendo regressado a casa ao final do dia.

Este episódio podia ter provocado em mim, alguma depressão, tristeza profunda e suscitado muitas perguntas ... mas não foi isso que aconteceu. Não me agarrei à tristeza, pois tentei entender esta ocorrência como "normal", normal no sentido de ser passível de acontecer a qualquer mulher que avança para uma gravidez. E se acontece a tantas mulheres, porque não haveria de me acontecer a mim?

Quando nos predispomos a engravidar, sabemos que corremos riscos, este é só um deles ... pelo que agora, o objectivo seria deixar passar alguns meses, e tentar mais uma vez. Creio que o facto de já ser mãe, me ajudou neste processo, pois estou convicta que se se tratasse de uma primeira gravidez, encararia as coisas de outra forma. Acredito ainda que o facto de se tratar de um aborto de 8 semanas, o tornou muito menos doloroso do que se ocorresse mais tarde. Tenho alguma dificuldade em explicar isto, pois afinal de contas é sempre uma perda, mas quando já sentimos o bébé, já assistiamos ao crescer da nossa barriga, há uma ligação afectiva muito maior (eu assim sinto) e por isso, penso que o sofrimento seria proporcional à evolução do estado de gravidez. Claro que este episódio me marcou, é uma gota de água, comparado com as historias de muitas mulheres, que a dias de terem o seu bébé no braços se deparam com uma morte fetal, com um parto e um funeral ... essa sim uma situação deveras dificil e causadora de um sofrimento inimaginável!!

Entretanto decidi adiar a maternidade para mais tarde, pois o meu objectivo seguinte era recomeçar a trabalhar. Assim foi, e a gravidez da Rita, acabou por acontecer no inicio do ano de 2003.

E com este relato, conheceram mais um episódio, no fundo, mais uma página do livro da minha vida!!!

Beijnhos

9 comentários:

Anónimo disse...

Custa-me tanto compreender a incompetencia de alguns medicos...Certamente eles ja saberiam que esse episodio poderia acontecer,mas mesmo assim mandaram-te para casa para aguardares...enfim nao ha palavras.

Beijinhos

Mae Princesa disse...

i amiga ia desmaiando a ler o teu relato. MAs concordo plenamente contigo, é uma perda sim, mas quando mais avançamos no estado, pior ficamos, e nas primeiras 12 semanas todas sabemos que tudo pode acontecer, não é? E depois disso também....Beijocas!

Mamã e Tesourinhos disse...

Amiga, custa sempre perder um bebé, principalmente quando o desejamos. Mas concordo que quanto mais avançada está a gravidez, pior será o sentimento de perda.
Fica bem.
Bjs.

Filho para sempre disse...

Querida Filipa,
Muito obrigado por teres partilhado este episódio da tua vida.
Imagino o quanto sofre uma mulher ao passar por uma situação semelhante. Felizmente, como pai nunca passei por algo semelhante e, desejo do fundo do coração que nunca tal me venha a acontecer. De qualquer forma, tens razão...pode acontecer a qualquer ser humano e, a melhor forma de reagir é "agindo", "pontapeando" a vida para a frente e, principalmente lutando por uma nova gravidez!
És especial, muito especial.
Um abraço amigo
Nós

Lisa disse...

És uma mulher do Carai!
Admiro-te imenso Filipa!
:D

força sempre para ti e claro rodeada de um arco iris pleno de felicidade!

cilinha disse...

ola FILIPA AINDA BEM QUE TUDO ISSO JA PASSOU ,E AGORA TENS A TUA RITINHA LINDA ...
quanto A Sandra vamos esperar para ver , quanto tempo ela vai estar afastada de nos.
Oxala que nao esteja muitos dias pois vamos sentir a falta dela ,... ja tenho saudades .

apetecia-me dar-lhe um grito ,mas estou tao longe que ela nao ia ouvir....
beijinhos

Silvia disse...

Uma perda é sempre uma perda e infelizmente há muitas pessoas a passar pelo mesmo.
Foste uma valente!!
Bjokas.

Algodão Doce disse...

olá...
Lamento que tenhas passado por esta dor...
Tens razão quando dizes que no início custa menos a dor da perda...mas não deixa de ser uma perda...e eu não consigo imaginar passar por isso!
Sim, só quem passa é que sabe o que dói!

Já passas-te por tanto...penso que já chega de sofrimento!!

Beijinhos grandes
Ângela e Tomás

Patricia disse...

é uma situação bastante dolorosa e complicada... nunca se esquece e continua sempre a magoar...

um beijinho grande