A minha filha é aquela princesinha com que todas as mães sonham e por isso mesmo, é um ser completamente diferente daquele que eu fui em criança. Todos quantos conhecem a minha filha elogiam a sua postura, o seu comportamento, e em especial a sua docura. É uma menina calma (deve ser a unica na família), ponderada, obediente e muito responsável. Eu, pelo contrário, sempre fui rebelde, desinquieta, teimosa, respondona e com uma energia inesgotável, embora devido a minha vivência fosse obrigada a ser desde cedo responsável.
A educação que incuto nos meus filhos, salvo as devidas diferenças, que se devem ao facto de serem seres diferente, é em geral a mesma.
Contudo a Rita, tem vindo ao longo dos anos, a manifestar algumas caracteristicas que não contava encontrar nos meus filhos.Por um lado a sua calma, deixa-me perplexa, pois com uma familia de stressados, espanta-me a forma como ela consegue manter a sua postura. No entanto, revela ao contrário de nós ... insegurança, que se manifesta numa incapacidade de se manter distante de nós. Faz questão que tenhamos de ter os olhos nela, perguntando-nos por exemplo quando brinca na praia se a estamos a ver. De minuto a minuto faz questão de confirmar que estamos atentos. Sinceramente, acho este comportamento perturbador. É também uma criança com uma baixa auto-estima. A Rita acha sempre que não é capaz de fazer qualquer coisa que lhe é proposta, mas a verdade é que quando ultrapassa o medo de arriscar .... faz tudo na perfeição. É uma criança muito exigente com ela, e ontem, eu própria não fui capaz de evitar comover-me. Ontem, pela manhã a Rita afirmava estar ansiosa, pois seria o dia em que receberia as notas das provas feitas na passada semana. Tentei tranquilizá-la, até porque eu, não tinha dúvidas que as notas seriam boas (depois explicarei).
Á tarde, aquando a chegada do autocarro, a Rita mal me avista, inicia um pranto que deixou todos os presentes perplexos, por não perceberem o que se estava a passar. Peguei-lhe ao colo, e segredei-lhe ao ouvido que tivesse calma, pois eu estaria ali, para a ouvir e ajudar.
Chegámos a casa e perguntei-lhe o que se passava, ao que a Rita de "beicinho" e com muitas lágrimas a rolar, me diz que recebeu as notas. Nas 3 provas tinha tido MUITO BOM (não havia excelente) pelo que eram as notas máximas. Aos soluços lá me foi dizendo que tinha tido, 91 e 94%, e que não sabia a outra nota, pois a professora esqueçera-se da folha da avaliação.
Naturalmente elogiei os resultados e perguntei-lhe porque estava tão triste se as notas tinham sido maravilhosas, e foi desconcertante ver a decepção da minha filha, quando me diz: "Estou triste comigo, porque eu queria ter 100%.
Resultado, chorava ela e chorava eu, sob o olhar de gozo do G, que acha que eu sou ... mariquinhas (naturalmente não sou, mas emociono-me com alguma facilidade).
Assim, tive uma conversa com a Rita, para que percebesse que as notas tinham sido muito boas, e que era normal não ter 100%. Contudo ela não se conforma ... pois é, segundo ela, sua obrigação ter 100%.
Esta situação, confesso não me surpreende ... mas preocupa-me muito. Quando exponho a situação a alguém, é-me dito que é bom que assim seja, pois é sinal que é empenhada e responsável. É verdade que é, mas a verdade é que a Rita, anda com os livros e os cadernos debaixo do braço para tudo quanto é sitio, a primeira coisa que faz quando se levanta é ir buscar os livros para fazer exercicios, quando está a ver TV está sempre a juntar as letras na tentativa de ler as legendas, arrumou todas as suas bonecas e brinquedos, pois não quer brinquedos, só quer livros e cadernos de actividades. É esgotante estar um dia com ela, pois só fala das letras, contas e afins. Quando em passeio não disfruta da paisagem, já que quer ir no carro a ler (já tem ficado mal disposta por isso mesmo).
Quando andamos num parque infantil, é frequente querer regressar a casa .... para fazer os trabalhos (e devora os livros num instante).
Quando a deitamos, assim que saímos do quarto, senta-se na cama, com as pernas cruzadas a ler e a fazer os trabalhos dos já muitos livros de actividades que temos adquirido. É demais ... e tudo quanto é em excesso ... não é bom. Este é um comportamento absolutamente obessessivo ... que me preocupa. A psicóloga da escola, não tem mãos a medir, pelo que (embora ainda não tenha falado com ela) é pouco provável que me possa ajudar. O G acha que estar a recorrer a um psicologo poderá não ser positivo (o G não nutre particular afininidade por psicologos), pelo que, é seu entender que devemos deixar andar e não dar importância. Eu pelo contrário, acho que até que alguém credível me diga que é normal (algo que duvido muito que me possam dizer) me devo preocupar.
Já algum de vocês se deparou com uma situação como esta? Se sim, agradecia se possível que me dessem a Vossa opinião.
Na minha modesta opinião, as crianças devem estar conscientes das suas responsabilidades, mas com 6 anos, há que cumprir as obrigações escolares, não esquecendo contudo, que são crianças e que estão na idade de brincar.