Hoje, vou á tal entrevista que foi adiada. Podia pedir-vos para me desejarem sorte, mas não vale apena. Vou para me testar a mim própria, pois a bem da verdade, e embora contrariada, se me chamarem ... EU NÃO VOU.
Aqui por casa só se ouve: "não te quero cortar as pernas, mas acho que não devias ir, preciso de ti para me ajudares no negócio, para além disso, já viste que vais passar a vida a correr, entre o trabalho, a casa e os míudos?" "os miúdos estão habituados a teres muita disponibilidade para eles, já viste que se fores trabalhar, já não será assim? Já pensaste no que eles sentirão?, é que eu também não tenho tempo!!! "Já viste que teremos de ir fazer as compras no fim de semana, com tudo apinhado de gente e com os miudos atrás? " Será que vale a pena?", "Tu é que sabes, tu decides, mas acho que andar a correr também não é vida!!!"
A minha mãe:
- "Eu não tenho nada a ver com isso, a vida é vossa, mas acho que as crianças estão melhor se as puderes acompanhar, além disso, será que o ordenado vai valer apena para abdicares de dares uma maior e melhor assistência aos teus filhos? "
"Não precisas de ir trabalhar, afinal de contas quando eu morrer, ficarás bem!!!"
E é assim que aqui por casa ... me "incentivam" a ir trabalhar!!!
Sou sincera, já são muitos anos em casa, e nem tudo são desvantagens, mas eu estou tão, mas tão saturada de estar em casa. Sinto falta de ter uma rotina, uma disciplina, de ver gente, falar com colegas, de sentir orgulho no meu trabalho, de sentir que contribuo activamente para os bons resultados de uma empresa ... no fundo, de me sentir útil!!
A independência ... algo que sempre foi muito importante para mim, é algo de que não sinto falta, já que felizmente tenho um marido que deposita em mim a gestão dos dinheiros e está sempre a incentivar-me a investir em mim. Não é por aí ... é mais por não me identificar nada com as tarefas domésticas e sentir que me falta algo.
Afinal de contas, embora sempre a correr, acredito ser possível conciliar o trabalho com os filhos e a casa. Sei-o por experiência própria, pois afinal fui mãe com 16 anos, e a partir daí estudava, trabalhava, e tinha um filho e uma casa para tratar .... e embora sendo difícil, e andar sempre a correr, sempre dei conta do recado, e ainda me sinto com capacidade para dar.
Quem me conhece sabe, que sou dona e senhora das minhas decisões, e mesmo que contrarie a minha família, tenho coragem para decidir e assumir perante todos, as minhas decisões, mas no fundo, também sei que ao fazê-lo, teria de acartar sozinha as consequências dessa decisão. Assim, e uma vez que já há tempo, desisti de ser a Super Mulher, e não pretendo criar e educar duas crianças a correr e praticamente sozinha, dado o pouco tempo do meu marido tem, irei acatar as opiniões da família, e manter-me-ei como Gata Borralheira :(
Hoje sinto que de facto, para os meus filhos, eu ir trabalhar, comportava alterações nas suas rotinas. Teriam de acordar mais cedo, permanecer mais horas nas escolas, teria de ajudar a Rita nos trabalhos de fugida, e teria menos tempo de lazer com eles ... seriam naturalmente prejudicados, mas também sei, que os anos passam a correr, e dificilmente eles no futuro reconhecerão o esforço que irei fazer, ao abdicar de algo que quero, para os beneficiar a eles. Não darão valor, bem sei, mas ficarei com a consciência que fiz o que estava ao meu alcance para lhes proporcionar o melhor. Espero sinceramente que a vida não me atraiçoe, porque isto de pensar nos outros (mesmo que nos filhos) e esquecermo-nos de nós, nem sempre dá bom resultado, e um dia mais tarde pode dar azo a um grande arrependimento.
Filipa
PS- Agora vou ali à entrevista (não sei fazer o quê) mas vou!!!
Adenda - Após ter estado 3 horas à espera, eis que sou chamada. Ao entrar dão-me os parabéns pelo resultado obtido na Prova de conhecimentos (neste concurso tive 17,88 e no outro tive 18,40). Após 20 minutos ao ouvirem-me falar, eis que me dizem: "classificá-la para este concurso seria um insulto às suas habilitações e capacidades. Não a poderemos excluir, mas é obvio que não tem perfil para o desempenho desta actividade. !"
É curioso como uma "tampa", pode elevar a nossa auto-estima :)))
Agora falta-me a entrevista do outro concurso ... o tal dos 18,40!!!