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domingo, 9 de novembro de 2008

Já não sou ... DADORA

É com vergonha e alguma tristeza, que aqui Vos digo, que hoje fui proibida de dar sangue! Eu para aqui a apelar às Vossas dádivas, e afinal de contas a minha terminou.

Eu explico. Hoje lá fui eu, "preparada" para ir dar sangue. O procedimento, é preencher um questionário, onde nos são colocadas uma serie de questões, e de seguida, somos vistos pelo médico, que nos faz algumas perguntas, mede a tensão arterial, e nos pica o dedo para avaliação da glicémia.
Eu estava bem disposta, mas à pergunta: - "Nas nas outras vezes em que deu sangue tem corrido bem, ou sente-se indisposta? ", não pude mentir!!
É verdade que tenho dado sangue, mas também é verdade, que muitas vezes me sinto mal, havendo necessidade de me elevarem as pernas, obrigarem-me a comer, etc.

Sempre atribui esses sintomas a alguns traumas de infância. Quando era miúda tinha que fazer a análise da glicose pois tinha tendência para ter elevados níveis de açucar no sangue. Tinha de ser picada várias vezes, ingerir água com açucar (actualmente já é um pó bem mais tolerável, se bem que, para mim ainda é intragável), e voltar a ser picada.
Para ajudar à festa, as minhas veias são "bailarinas", o que implica que para conseguirem atingir a veia, tenho de ser picada várias vezes, sendo que a alternativa, é inserirem a agulha nas mãos!!

Lembro-me que fazia cenas incríveis, gritava, chamava nomes às analistas, tentava atingi-las com as minhas queridas botas ortopédicas, enfim, um filme, para não dizer uma vergonhaça.

Quando engravidei do André, as análises da praxe impunham-se, e não havia vez nenhuma que os mosaicos brancos e pretos, do chão do laboratório, não andassem numa roda viva. O desmaio fazia sempre parte do cenário, pelo que comecei a realizar as análises deitada. Pois mesmo depois da conclusão das análises, a ida ao WC motivada pela indisposição era inevitável.

Levei anos a dizer que antes preferia ter um filho do que tirar sangue ... um disparate eu sei, mas era isso mesmo que pensava.

Fui crescendo e percebendo que só o facto de pensar em tirar sangue me indispunha. Considerava a indisposição perfeitamente absurda, e ficava arreliada comigo própria por reagir infantilmente, aquilo que afinal não implicava por si só, nenhuma dor intolerável.

Senti-me na obrigação de provar a mim mesma, que não permitiria que esta fobia (pensava eu que era) altera-se as minhas intenções de ser dadora de sangue.

Mas a verdade verdadinha, é que não tem sido fácil, mas como sou teimosa, lá vou duas vezes por ano.

Hoje, lá fui obrigava a confessar perante a médica, as minhas indisposições passadas. Ela torceu o nariz. Disse-me que há organismos que reagem mal à dádiva, que não se trata dum problema psicológico, mas físico, e nós só temos é que respeitar a vontade do nosso corpo. Insisti que iria tentar mais uma vez, ao que ela consentiu sem antes de me dizer: - Vá lá então, e só espero daqui a pouco não ter que a ir socorrer.

Subi ao piso de cima, onde está o equipamento. Tentei concentrar-me na mesa de refeições recheada de sumos (muito doces, completamente intragáveis), bolachas e algo que é feito maravilhosamente pela mãe de uma Senhora da Comissão de Dadores ... filhoses!!!

Ainda esperei um pouco. Respirei fundo várias vezes para tentar abstrair-me do ambiente. Fui chamada, e lá fui sorridente, tentando disfarçar o meu nervoso miudinho que teimava em querer dar nas vistas.

A colheita começou, tendo a enfermeira tomado conhecimento do meu triste historial de indisposições, lol. Ficaram de olho em mim, perguntando-me frequentemente como me sentia. A verdade é que me sentia bem. A colheita terminou sem percalços, dizendo a enfermeira: "está a ver, eu não lhe disse?, hoje não me deixou ficar mal"!!!

Sentia-me orgulhosa, mas a elevação das pernas lá continuava, e a imposição de beber aquele intragável sumo também. Os restantes dadores entravam e saiam, e eu ali de castigo. O castigo terminou, mas ainda assim fizeram questão que me sentasse e comesse mais qualquer coisinha. Foi a oportunidade para dar dois dedos de conversa com a simpática senhora da Comissão de Dadores. Eu continuava bem disposta.

Às tantas ouve-se um estrondo. Foi um senhor (acompanhante) de alguém que dava sangue ,que estava em jejum, e teve uma quebra de tensão, caindo estatelado no chão. Passou o reboliço inerente ao socorro do Senhor, e a conversa prossegue.

De repente, começo a sentir o meu estômago às voltas (1º sintoma), a indisposição aumenta e sinto vontade de vomitar (2º) .... disse à Senhora com quem falava que não me estava a sentir bem, o que motivou um grito pelos Enfermeiros. Fui amparada até à "marquesa". Começam a pedir-me que não fechasse os olhos e que tossi-se. Alguém me abana. Vem a médica. Tensão 8-5. Ministram-me uma gotas debaixo da língua. Começo a sentir-me melhor. Tensão 10-6. Mais um sumo, mais tempo de castigo, no fundo mais uma ... vergonhaça.

A médica foi peremptória: Não vai poder mais dar sangue!! Não pode contrariar o seu organismo!! . Perguntei se daqui a uns tempos poderia voltar a insistir. A médica diz que sim, sem estar muito convencida de que esta reacção orgânica alguma vez mude. A enfermeira acrescenta "sou da opinião que as nossas células têm memória, pelo que é difícil ultrapassar traumas passados".

Pronto, e foi assim que o Instituto Português do Sangue perdeu uma dadora, desta forma vergonhosa!! Foi assim que me classificaram como traumatizada (e eu que já tinha alguns, ganhei mais um para a colecção) e foi assim que me consideram uma incapacitada ou inapta, lol!!!

Passadas 8 horas, ainda sinto o meu estômago sensível. Fiquei aborrecida, pois esta coisa de ter um organismo que manda mais, do que a minha mente, é algo que me perturba. Afinal quem é que nos comanda? É o corpo ou a mente? Este corpinho já está mas é a esticar-se demais para o meu gosto. Primeiro cresce para os lados sem permissão, e agora, ainda tem a mania que manda!!! Era só mesmo isto que me faltava ... um corpo revolucionário, para se juntar a uma mente reivindicativa!!! Sinto-me explosiva!!! lol!!

Beijos

Lembram-se da minha Penultima dádiva?. Aqui está o testemunho!!

7 comentários:

Lisa disse...

Também sou dadora, mas a minha única mentira é: Tem tatuagens e eu ............. nãaaaaaaaaaa só 11 lolol
:P
Que pena querida... pode ser que estivesses apenas mais sensível!
um beijo enorme e boa semana

Noc@s disse...

Pena :-(
Jocas explosivas ;-)

Kelly disse...

Sinto muito...Eu também tenho esse tipo de reacções mesmo que me esforce por pensar noutras coisas...
São maneiras de ser...

Anónimo disse...

Estava a ler o teu relato e a rever-me nessa situaçao, eu tal como tu tambem ja fui dadora, mas mesmo mesmo no final ja o saquinho estava quase cheio, ou ate mesmo depois de terminar, sentia-me sempre mal, pernas elevadas, agua com açucar, aquelas coisas normais...a medica perguntou-me:E a primeira vez que se sente assim? Eu muito envergonhada la tive que dizer: nao.sempre que venho dar sangue fico assim!Ela toda lampeira disse-me logo, ja vi que tem muita vontade de ser dadora, mas para seu bem nao venha mais dar sangue, sei que o faz de boa vontade, mas sentir-se mal por causa disso nao esta correcto, eu ainda a tentei convencer a ir, ao que ela me disse, a menina e que sabe mas na minha opiniao acho melhor nao vir mais.Fiquei triste, porque sabia que o meu sangue poderia ajudar a salvar vidas, ate porque sou do tipo O, ou seja, posso doar a todos os outros tipos(apesar de so poder receber do mesmo tipo que o meu), mas paciencia, nao fui mais porque realmente sentia-me mesmo mal.Sei que nao e por isso que sou pior cidadã, porque pelos menos tentei (alias varias vezes, mesmo a sentir-me mal)...
Por isso amiga nao penses que es a unica a sentir-te assim, pelo menos das ja somos,lol...

Beijinhos e depois aparece para pormos a conversa em dia

Anónimo disse...

ola filipa eu ainda não tive coragem de o ir dar.sei que e importante para salvar vidas.mas quando vejo sangue tãmbem fico doente.beijinhos angelina

Mae Princesa disse...

Bem , li o teu relato a encolher os bracinhos, tal como tu, tenho pânico de agulhas!!Nem olho para elas! Tirar sangue custa-me mais que levar uma epidural e ter um filho, acredita! fico maldisposta só de pensar nisso, é mesmo uma coisa terrivel.Beijocas e olha, paciência!

Paula Silva disse...

fizeste o teu melhor!!
eu vou sábado aqui também ..e apesar da minha tensão arterial ser sempre 8/5 por norma sinto-me sempre bem ..vamos lá ver como corre desta vez
bjs